Ponto de Vista
Crônica de autoria do jornalista Tasso Franco publicada na versão online da Tribuna da Bahia,em 08/03/2010.
Tasso Franco
Olívia Soares que é uma jornalista de idos antigos, não tanto quanto à época de minha chegada à cidade da Bahia, nem tampouco quando Afonso Ribeiro e João Ramalho foram mandados a terra de Vera Cruz para astúcia dos primeiros movimentos do homem brasis, em Porto Seguro, foi quem me ofertou a informação de que os jornalistas baianos só se encontram em cemitérios. Por certo, de outra feita, já comentei esse tema neste espaço e volto agora a narrar com minha pena de ganso o acontecido que se deu no sepultamento do colega Jânio Lopo, in sábado último para glória de Deus.
E ao que faz crer meu pensamento o Grande Arquiteto, como bela é a existência, sendo jornalista uma categoria de pecadores, para imputar alguns procedimentos conosco teria nos submetido a essa provação, uma remissão de pecados, os quais, como sabemos, nem todos somos devedores e alguns até inocentes, mas outros nem tanto porque adoram o óbolo das moedas prateadas, e assim uns pagando pelos outros nos obrigou a tal procedimento.
Assim dito e feito, tendo males que vem para o bem, nos vimos nas reverencias celestiais a Lopo, nosso irmão em Cristo, editor e colunista desta Tribuna da Bahia, que Deus o tenha em sua morada eterna, na paz como era sua imagem terrena, e nos deixe os pecadores a purificar nossa alma com algumas tiradas de humor visto que, como não somos eternos, salvo os imortais da gloriosa ALB, observados foram muitos dos nossos, homens e mulheres, disfarçando os longos anos da vida com madeixas pintadas.
Num canto da pirraça, ao ver tamanha quantidade de cabelos tingidos, Arakem, Alberto Oliveira, Levi Vasconcelos e outros tantos, inclusive esse anotador de causos, nos divertíamos à mancheia, e escrevendo essas linhas que vos falo entendendo a diversão como parte notória do evento, já que só nos confraternizamos em cemitérios, eis que, para nossa glória havia de tudo um pouco, da tinta boa e que não deixa fios brancos em qualquer parte da cabeça, sequer nas sobrancelhas quanto também ali aplicada, àquelas de segunda categoria compradas no Le Biscuit, a outras com efeitos sutis e mechas.
Enumerar tais e quais casos meu bom leitor, minha boníssima leitora, seria injusto porque havia muitos, mas, de depoimentos tomados do próprio punho o colega Sobral Lima, recém chegado de Cuba onde pena a beira da morte o jornalista Guillermo Fariñas, em greve de fome, dizia que os infiéis de fato têm que pagar por seus pecados, e mais não citou quais os existentes na ilha, mas admitiu que em sua cabeleira branca, das mais vistosas, caberia uma boa tinha, uma escovinha.
Adiante alguém enxergou por seu porte, o poeta, jornalista e advogado Nestor Mendes Jr a refletir naquela manhã as luzes em suas vasta cabeleira, aplicadas ao que se pode perceber por um profissional de naipe elevado. Jorginho Ramos, que será o conferencista da sessão magna pelas comemorações dos 173 anos da gloriosa cidade de Cachoeira, em semana entrante, de nada mais pode disfarçar tal o branco total de sua cabeça.
Ah! Dizia-me Levi, já viste Rogaciano? - Trabalho bem feito. Só ficou uma pequena falha na parte de trás da cabeça. No mais, vou procurar quem foi o seu cabeleireiro. O fotógrafo Anízio Carvalho do alto dos seus 80 anos de idade, nada a comentar. Bem, havia um colega, que não devo citar o nome porque pecados existem, mas nem todos podem ser revelados na terra do Senhor, que gastou o dinheiro à toa e ficou com duas toucas, branca e marrom.
A chuva ameaçou cair e deu-se uma pequena movimentação entre um grupo de mulheres. Ah!, sim, as meninas, desprevenidas e sem sombrinhas, temiam pela tinta solta nas golas das suas blusas em caso São Pedro tivesse aberto suas torneiras. Popó, eterno bom humor, sorria.
E assim seguimos em cortejo para levar o colega Jânio Lopo a morada eterna para a glória do Supremo Arquiteto. Que este perdoe nossos pecados e nos ofereça um local mais agradável para novos encontros.
Publicada: 08/03/2010 Atualizada: 08/03/2010 19:01