sábado, 11 de julho de 2009

"CARTA ABERTA AOS ARTISTAS BAIANOS"

" Hoje, 03 de Julho de 2009, o Exmo. Governador do Estado da Bahia, Sr.
Jaques Wagner, declarou nos principais jornais locais que os protestos
ocorridos contra a atual política cultural e o Secretário de Cultura
Marcio Meirelles, durante a comemoração do 2 de Julho – data magna da
Bahia – partem das "viúvas do passado, acostumadas aos privilégios do
governo anterior".

É assustador que o Governador do Estado assim pense.

O Governador, ao declarar este pensamento, revela uma visão confusa de
cultura – porque não entende o papel da arte e de seus profissionais –
e minimiza a insatisfação dos artistas baianos com a atual gestão da
Secretaria de Cultura.

As pessoas que compareceram ao protesto são artistas – e não só de
teatro – que ao longo de suas vidas batalharam para o reconhecimento e
profissionalismos de suas atividades; são artistas conhecidos e
reconhecidos pela comunidade, alguns com nomes bastante relevantes.
Assusta-nos que o Governador, ao longo de quase três anos de governo,
não reconheça que existe, sim, uma grande insatisfação na área
cultural e que o nome do atual secretário, sistematicamente, pontuou
as manchetes dos jornais, envolvido sempre em uma polêmica relativa ao
desmonte da produção artística.

Chamar de "viúvas" os artistas baianos é, no mínimo, um desrespeito
com estes profissionais, pois nenhum governo deu aos artistas,
dos artistas, individualmente ou coletivamente. Se o Governador fosse
um homem com esclarecimento amplo na área da cultura, entenderia isto
muito bem.

A Classe Artística não trabalha para ideologia política partidária e
sim para a liberdade de expressão do ser humano, pois só através desta
é que podemos transformar o indivíduo.

Talvez more aí o poder da arte e a justificativa do descaso com que
vem sendo tratada a nossa cultura.

Nos respeite, Governador e reflita quando se dirigir a um grupo de
trabalhadores que, devido ao subjetivismo de suas profissões não pode
sequer recorrer à greve como instrumento de protesto. Mas não se
esqueça que somos formadores de opinião e temos o apreço das platéias.

O atual Secretário justifica o fracasso de sua gestão acusando a
escritora Aninha Franco de orquestrar os protestos do 2 de Julho. O
protesto ocorreu por iniciativa dos artistas e a citada escritora, em
momento algum, colaborou para isto. É importante ressaltar que toda a
mobilização ocorrida foi efetuada através de uma comunicação
estabelecida unicamente através de e-mails, sem a necessidade sequer
de uma reunião. Tudo isso, Sr. Secretário, para o Sr. perceber a
insatisfação que grande parte da classe artística soteropolitana – que
compareceu em massa – tem para com a política cultural dos atuais
governos: estadual e municipal.

A classe artística não precisa ser orquestrada, pois não é massa de
manobra. É uma classe pensante e crítica e, talvez por isto, é que
esteja sendo tão desrespeitada.

"Viúvas do passado", como sugere o Governador, são todos aqueles que
conseguem sobreviver aos governos, fazendo o seu ofício. São artistas
como Carybé, João Ubaldo, Edgard Navarro, Lázaro Ramos, Margareth
Menezes, Luis Caldas, Armandinho e Instituições como o Balé do TCA,
Balé Folclórico, Museu Carlos Costa Pinto, Instituto Histórico e
Geográfico, Theatro XVIII, Academia Baiana de Letras, Teatro Vila
Velha e todos os que conseguem elevar o nome do nosso Estado,
tornando-o um dos principais pólos de produção artística e uma das
expressões culturais mais representativas do Brasil.

Exigimos mais respeito, pois os privilegiados passam também pelo atual
Secretário de Cultura que sobreviveu, e muito bem, dentro dos governos
passados, conquistando o seu respaldo artístico em um sistema que ele
hoje, oportunamente, combate. A discussão cultural é muito mais
e a maioria dos nossos políticos parece ignorar esta verdade. Acusar
de privilegiados profissionais que em sua grande maioria não tem nem
uma casa própria, é ultrajante.

Qual o moral que um político tem hoje de se referir a uma classe de
trabalhadores que emociona, diverte, informa e eleva a autoestima da
população? Qual o moral que os grupos políticos podem ostentar em um
país onde o Congresso Nacional afunda em meio à corrupção? Onde o
Presidente da República, omissamente, a tudo assiste? Claro! Falar do
Presidente ou ter qualquer idéia contrária a atual corrente de
pensamento, virou coisa dos "privilegiados" e das "viúvas do passado".

A lógica empregada pelo Governador é tosca, assim como é distorcido o
pensamento de que "quem não está a meu favor está contra mim".

Chegamos até o atual governo fazendo oposição aos grupos que estiveram
no poder, uma oposição em nome da liberdade, pois somos artistas e
precisamos dela e é em nome dela que agora estamos também criticando e
nos posicionando contra a atual gestão ou falta de gestão cultural.
Não temos compromisso com nenhum partido. A nossa bandeira não
perpassa pelas ideologias partidárias e sim pela liberdade na garantia
do Estado verdadeiramente democrático e de direito.

Por isso, nos respeite, Sr. Governador.


Salvador, 03/07/2009



Sindicato dos Artistas e Técnicos do Estado da Bahia

Presidente: Fernando José Marinho

Secretário Geral: José Carlos da Silva