terça-feira, 20 de janeiro de 2009

AGÔ!

Agô é a expressão usada para pedir licença no candomblé. Utiliza-se agô para pedir permissão aos orixás, às folhas, aos mais velhos e superiores hierárquicos na estrutura organizacional de um terreiro. Pede-se agô nas encruzilhadas para seguir em paz. No mundo dos encantados, das divindades que convivem com os humanos, existe um sistema próprio de comunicação para aqueles devotos que acreditam. Assim como os antigos gregos ofereciam presentes para agradar aos seus deuses, o povo de santo ainda hoje faz isso. Em Cachoeira, cidade erguida com as fortunas dos brancos donos de engenho de cana-de-açúcar e o suor e a dor de muitos escravos, a herança cultural e religiosa desses últimos, que vieram para cá, à força, para gerar toda essa riqueza, continua presente em nossas vidas. Há anos, a população desta cidade encantada convive com os ebós, bozós, feitiços- como queiram denominar- depositados em locais sagrados, indicados pelas divindades e pelos ancestrais do povo de santo. O que é o presente para Yemanjá senão um grande bozó coletivo? Essa convivência sempre foi tolerada, ainda que desagrade a alguns. Recentemente, as tradicionais oferendas para os deuses do panteão africano, virou assunto numa emissora de rádio local. Comentava-se que os empregados da limpeza pública se recusavam a retirar ebós. Ora, ebó não é para ser retirado-quem toca em coisas sagradas no candomblé são pessoas autorizadas. Ebó é para entrar em decomposição, na mais pura manifestação da natureza. Não há candomblé sem natureza Os africanos sabem que homem, energia e natureza se integram. É isso que é a magia e a essência do candomblé.
Se os ebós estiverem incomodando tanto, sugere-se que os sacerdotes preparem oferendas com caldo de galinha em tabletes em lugar da própria ave.
Que os orixás lancem muitas luzes sobre certas pessoas de indaka(língua) solta. Ou então, mussurum daqüé(boca fechada). E para os intolerantes, um aguedé de boboacy!
Agô!