segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Empresas negam patrocínio à Parada Gay de Salvador

Por Paloma Ayres
Fonte: Gente& Mercado

Elaborar um projeto para um evento parece ser fácil. No entanto, o mais difícil é tirá-lo do papel. Muitos eventos não acontecem ou são realizados com poucos recursos, em virtude da falta de patrocínio tanto do setor público quanto do privado. Em relação ao último, as empresas ainda se mantêm reticentes na hora de investir na visibilidade da própria marca para associá-la a um evento, seja pela indisponibilidade de verba ou por conta da dissonância entre a empresa e a natureza da atividade cultural ou social.

Um dos eventos que sofrem com a falta de incentivos, especialmente os do setor privado, é a Parada do Orgulho Gay de Salvador, uma das maiores manifestações do gênero LGBTT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros) do País, que vai acontecer no próximo domingo, 11. Entidade defensora dos direitos dos homossexuais mais antiga do Brasil, o Grupo Gay da Bahia (GGB), que organiza a Parada, encaminhou o projeto – orçado em R$ 100 mil – às empresas de grande porte, mas sem sucesso. A 10ª edição do evento conta com o apoio apenas de órgãos estatais e municipais, além de convênios e permutas com parceiros.

Para o presidente do GGB, Marcelo Cerqueira, a retração do patrocínio privado pode restringir a participação do público gay junto às empresas. “Somos 10% da população brasileira, com poder de consumo e o empresariado não se sensibiliza com isso”, observa. “Nós usamos celulares, compramos carros, roupas, perfumes e gastamos como todo mundo. É triste ver, no material gráfico da Parada Gay, que não tem nenhum logotipo de uma grande empresa”, lamenta. Outra queixa do presidente é que algumas empresas, como o Banco do Brasil, a Caixa, a Vale e a Coelba, realizam editais, mas nenhum voltado à temática LGBTT.

Com a palavra as empresas

Tendo em vista a recusa das empresas em se associar ao evento, o GGB quer organizar um boicote a elas no ano que vem, como forma de atingir diretamente o lado financeiro e despertar a consciência nos gays para reivindicar maior representatividade. Entre as empresas que não deram retorno estão a Vivo, Postos Ipiranga, Localiza, Norsa Distribuidora, Ambev e GVT.

Indagadas, representantes de duas delas justificam. “Nossa linha de patrocínio é voltada para os nichos C, D e E, com um foco mais popular, a exemplo de eventos esportivos e o Balanço Geral nos Bairros, mas nada na linha macro, como eventos de grande porte”, alega Stela Mares, gerente de Marketing da Vivo. Já Camila Lima, analista de Marketing e Eventos da Norsa, alega que o projeto da Parada não chegou até o departamento. “Eu avalio a viabilidade financeira por parte da empresa e se o evento tem a ver com a nossa proposta. Pode ser que o projeto da Parada Gay tenha sido entregue a outras pessoas, mas não passou por mim”, justifica.

Investimento com retorno

Uma das formas de obter êxito na captação de recursos é buscar a empresa que esteja afinada com o público do projeto. O consultor da Marketing Consultoria, Ideias e Resultados, Ênio Carvalho, explica a importância da associação da marca de uma empresa a um determinado evento. “O patrocínio apresenta um esforço positivo, na medida em que busca o público-alvo que quer atingir”, destaca.

Entretanto, o especialista pondera que é preciso que o patrocinador avalie bastante o seu investimento, para que ele possa ter um retorno satisfatório. “A empresa busca, primordialmente, ser vista pelo seu público, mas também precisa se identificar com a causa em que está empregando a verba. Muitas empresas não dispõem de um setor de Marketing para orientar nesse momento e acabam investindo mal e não tendo o resultado desejado”, alerta.

Além disso, outro indicativo que deixa o empresariado reticente em relação à concessão de patrocínio é a fixação da marca na mente do público. “Se você perguntar para alguém da plateia se ela lembra ou sabe que empresa está patrocinando ou apoiando aquele evento, a pessoa quase sempre não sabe ou nem se importa muito com isso. Nesse caso, o esforço de comunicação, que é tudo o que se faz para divulgar um produto, não foi efetivo”, pontua Carvalho que, há 16 anos, promove o disputado prêmio Top of Mind, sobre as marcas mais lembrados entre os consumidores baianos.