O resultado do Censo 2010, divulgado nesta sexta-feira (29) pelo IBGE, traz uma revelação um tanto curiosa, para não dizer surpreendente: os dois municípios baianos que possuem mais casais homossexuais, num universo de 417, são vizinhos e dividem a mesma faixa de terra no meio do mar. Vera Cruz e Itaparica têm, por coincidência ou afinidade, 0,36% de cônjuges do mesmo sexo, e conseguem desbancar inclusive a capital, Salvador, terceira colocada com 0,33%. Para o antropólogo Roberto Albergaria, uma das possíveis explicações para o pioneirismo da Ilha seria a grande quantidade de estrangeiros na região. “A Ilha tem muito estrangeiro, daquele tipo alternativo, que vai para lá para se libertar. (...) E o próprio fato de ser uma ilha, já traz essa ideia no imaginário de liberdade, de um espaço de lazer, ou libertinagem”, comenta. No ranking dos 10 municípios com maior número de uniões estáveis gays, apenas dois – Itagibá e Santa Inês, no sudoeste – não são litorâneos. Para o antropólogo, o ambiente de praia favorece as alianças homossexuais. “São ambientes mais livres, propícios para estas relações”, afirma. Sobre Salvador ser a terceira no levantamento, e ainda por cima ser vizinha das líderes, ele considera uma possível complementaridade na relação entre os espaços. “A Ilha é o refúgio da banda B da macheza soteropolitana. Em Salvador o homem trabalha, é casado e tem filhos; na Ilha, ele se libera. (...) Podemos dizer então que Itaparica está para Salvador como Sodoma estava para Gomorra”, supõe. Com a picardia e bom humor que lhes são peculiares, Albergaria comemora o fato de o Censo ter, supostamente, comprovado uma antiga suspeita dos baianos sobre o verdadeiro nome da cidade onde nasceu o escritor João Ubaldo Ribeiro. “Agora está comprovado que o nome verdadeiro de Itaparica é Itarapica”, dispara. Por fim, sugere que o resultado tenha algo a ver com a famosa Fonte da Bica, também na Ilha. “Deve haver alguma coisa na água da Fonte da Bica... da Bica, com B”, salienta, em tom de galhofa.
