segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Alunos da UFRB, Aninha Franco, Trilhas, Revista Muito, 3.11.2013:

DIRETO DO FACE



Estudantes da UFRB, seus professores devem ter explicado a vocês que o Brasil foi colônia por séculos, mesmo depois da independência e da república, e que as sociedades coloniais existem para alimentar outras sociedades desde que os humanos as criaram. Alguns têm que trabalhar mais que outros desde o início da razão! E que nas sociedades pós-coloniais, como a nossa, combate-se sistematicamente a opinião, riqueza que só se perde destruindo a memória. Por isso Asterix, combatente do império romano, só teme que o céu caia sobre sua cabeça.
Quando a América foi descoberta e enriqueceu a Europa, a Europa resolvia questões como essas que estamos resolvendo agora, num Brasil democrático pela primeira vez, em quase 500 anos de Sociedade. Invadido em 1500, é contemporâneo de Galileu (1564.1642), obrigado a desmentir num tribunal da inquisição que a terra se movia. Desmentiu, mas murmurou na saída “E no entanto se move”. E a sua opinião prevalece. Até 1808, foi proibido imprimir na Colônia do Brasil. Os que possuíam bibliotecas eram malvistos, porque opinião é construída no conhecimento das opiniões de outros humanos desde Homero e Sócrates, deste Aristóteles. Os revolucionários da Bahia (1798), os revolucionários de Pernambuco (1817), os revolucionários de Minas Gerais, (1789) foram enforcados, esquartejados e exilados por suas opiniões.

De 1808 para cá, a opinião abrasileirou-se pouco no Brasil. Instalou-se nele, para controle do eurocentrismo, instituições do pensamento europeu, academias de letras, institutos geográficos e históricos e universidades, todas defendendo, sistematicamente, a cultura européia, os institutos geográficos menos que as academias e as universidades, para que a cultura brasileira mestiça e mixada como sua construção genética não emergisse. E ainda aqui, no século 21, tem-se a farinha do reino como superior à farinha de guerra e o azeite doce mais saboroso que o azeite de dendê.

As colônias que têm opinião, prezados alunos, podem tornar-se impérios. É péssimo ser colônia. Os impérios criam. Como os USA, como Roma. As colônias copiam. Vocês perderam a opinião de Demétrio Magnoli, fortalecida semanalmente pela repetição na Folha de São Paulo, para um milhão de leitores; e para a Veja, a revista mais lida do Brasil. Que lástima!