RIO - Oficiais de Justiça lacraram na tarde de sexta-feira a entrada de carros do Quilombo do Sacopã, na Lagoa. A medida foi resultado de uma ação, movida na 8ª Vara Cível, por cinco condomínios da área, para impedir que aconteçam festas no local com venda de bebidas e alimentos. Moradores do quilombo disseram que vão recorrer. Há dez anos, houve uma ação semelhante.
O quilombo fica na Rua Sacopã 250 e é o único em área urbana no Rio reconhecido pelo governo federal. O lugar, num dos bairros mais valorizados do Rio, começou a ficar famoso na década de 70, por causa de uma roda de samba e também da feijoada oferecida ao público.
Os oficiais de Justiça não quiseram falar sobre a ação na 8ª Vara Cível. O músico José Luís Pinto Júnior, conhecido como Luís Sacopã, de 68 anos, que mora no quilombo, reclamou:
- Eles tentam nos prejudicar de qualquer maneira. Para mim, isso é racismo. Estão tirando o nosso direito de ir e vir. São pessoas que se dizem poderosas, mas que só sabem prejudicar os outros.
Segundo ele, a região é objeto de uma disputa judicial que dura cerca de 40 anos. Luís Sacopã afirma que a já é a quinta geração da família Pinto que mora no local. Ao todo, afirmou, são 26 descendentes de escravos, que, regularmente, realizam eventos, com feijoada e samba.
- A vizinhança reclama dos encontros, mas a minha família está aqui há mais de 105 anos. Já sofremos todo tipo de violência por sermos pobres e morarmos numa área rica. Vamos à Justiça derrubar essa ação, que impede os moradores de saírem com os carros - disse.
Em 2008, a família Pinto conseguiu, junto ao Incra, por meio do decreto 4.887, a regularização fundiária do quilombo - uma área de 18 mil metros quadrados. Além disso, Luís move na Justiça uma ação mais antiga, por usucapião, atualmente em terceira instância, que estabelece em 23 mil metros quadrados a área pertencente à sua família. Isso significaria desapropriar 22 condomínios da Fonte da Saudade.
A regularização fundiária do Quilombo Sacopã tem sido questionada por vários moradores. Segundo eles, as terras da Lagoa eram da família Darke de Mattos. Os integrantes da família Pinto, argumentam, trabalhavam como caseiros. Para a moradora Suzanne Alves, de 52 anos, advogada, os habitantes do quilombo tratam a vizinhança como se fosse invasora.
- Parece que quem invadiu a região fomos nós. Quando tem festa, é só barulho. Fora o movimento de carros - disse ela.
A presidente da Associação de Moradores da Fonte da Saudade (Amafonte), Ana Simas, alega que o terreno do quilombo faz parte de uma área de proteção ambiental, que vem sendo devastada. Segundo ela, além de ser público, o local deveria ser conservado. Ana afirmou ainda que os moradores do lugar estão expandindo suas construções.
Luís Sacopã negou que esteja derrubando a vegetação e expandindo a área construída. Segundo ele, para que haja regularização de um território quilombola, a Fundação Palmares, ligada ao Ministério da Cultura, concede um título, baseado em estudos antropológicos.
- No caso do Quilombo do Sacopã, as pesquisas tiveram o respaldo de professores da UFF. Eles ficaram responsáveis por levantar o relacionamento entre as pessoas do grupo, além de símbolos e costumes que remetessem ao período da escravatura. O Incra já reconheceu o quilombo - finalizou.(Texto: Ronaldo Braga -Jornal O GLOBO)
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