|
| 9 de Setembro de 2012 10:3 |
(Editorial) O Globo
Passadas as primeiras sessões de julgamento do mensalão, ou da Ação
Penal 470, é possível que as atenções para o plenário do Supremo
Tribunal Federal tenham se reduzido. Mas é provável que o julgamento
volte a conquistar audiência quando estiver na pauta a ação do “núcleo
político” da “organização criminosa” denunciada pelo Ministério Público
Federal, em que se destacam o ex-ministro José Dirceu, além de José
Genoino e Delúbio Soares, ex-presidente e ex-tesoureiro do PT.
Continua sendo um exercício arriscado prever o destino dos réus ainda
não julgados, mas, vencidas as primeiras “fatias” do julgamento, se
ainda é temerário arriscar profecias, pode-se, ao menos, identificar um
esboço nítido de um caso de fato histórico em que a política e a
criminalidade se deram as mãos como poucas vezes visto com tamanha
nitidez.
Fora o destino do deputado João Paulo Cunha, de Marcos
Valério e sócios, no caso dos R$ 50 mil pagos ao ex-presidente da
Câmara — em que houve total divergência entre os ministros Ricardo
Lewandowski, revisor do processo, e Dias Toffoli, convencidos da
inocência dos acusados, e o resto da Corte, que os condenou —, não
ocorreram até agora grandes discrepâncias nos veredictos.
A divergência é mais sutil, e só deve ser esclarecida, por maioria de votos, daqui para a frente.
Pelos votos dados e exposições feitas, Lewandowski e Toffoli parecem
considerar estanques alguns dos grupos denunciados pelo MP. E também não
se pode entender a concordância dos dois com condenações defendidas
pelo relator, Joaquim Barbosa, como indício de que reconhecem a
existência do mensalão.
Por esta visão, Henrique Pizzolato
transferiu milhões do Banco do Brasil para Marcos Valério apenas em
troca de propina. Houve, sim, fraude nos empréstimos liberados pelo
Banco Rural a Marcos Valério — mas em troca da ação deste como lobista
em Brasília.
Esta interpretação dos fatos será discutida quando
surgir de forma direta a tese de que todo aquele movimento de dinheiro
sujo serviu “apenas” para abastecer caixa dois de partidos e políticos. E
não para a compra de apoio e votos no Congresso.
Haja o que
houver, o cenário que já emerge do julgamento não deixa bem grupos do PT
e partidos aliados. Seja caixa dois ou mensalão, não importa,
materializa-se no Pleno do STF um enorme golpe com desvio de dinheiro
público e tráfico de influência por interesses político-partidários.
Explica-se o destempero do presidente do PT, Rui Falcão. Diante de um
início de julgamento pouco promissor para mensaleiros do partido, o
dirigente denunciou um risível “golpe” da “direita”, com a indefectível
inclusão da “mídia conservadora”, do qual o STF seria “instrumento”.
Além de ser um ataque demente a um tribunal que dá constantes
demonstrações de seriedade e equilíbrio, o militante tenta ressuscitar
uma desculpa hilariante. Se nunca foi levada a sério a tese do “golpe”,
depois de iniciado o julgamento ela virou de vez piada de salão
|