À espera do pior(Blog do Noblat)
RICARDO NOBLAT
O medo e o ranger de dentes parecem ter cedido lugar à cautela e à
sensatez como atitudes mais indicadas para orientar o comportamento do
PT diante do que está por vir – a cadeia, destino certo de alguns dos
seus festejados ex-dirigentes, e a possível, embora ainda incerta,
investigação sobre o papel desempenhado por Lula no esquema do mensalão.
O PT estava pintado para a guerra. Guardou as armas. Fez bem.
Deu-se, por exemplo, como definida a ausência da presidente Dilma
Rousseff na posse do ministro Joaquim Barbosa, o novo presidente do
Supremo Tribunal Federal (STF).
Lula não queria vê-la por lá
nem com manto, cetro e coroa. Está furioso com o rigor que tem pautado
as intervenções de Joaquim durante o julgamento do mensalão.
Imperdoável, por suposto.
E pensar que Joaquim deve a Lula o cargo que ocupa... E pensar que seu
nome foi selecionado por Frei Betto, assessor especial de Lula no
primeiro governo dele.
Ingrato!
Afinal, prevaleceu a
moderação. Dilma viajará à Espanha. Mas voltará às vésperas da posse de
Joaquim na vaga a ser aberta com a aposentadoria do ministro Carlos
Ayres de Britto.
Trata-se de um rito de Estado a presença do
presidente da República na posse do chefe do Judiciário. Pelo menos
assim entende Dilma.
O contrário seria no mínimo um desaforo. Ou para ser exato: um ato de provocação.
Presidente da República pode muito, mas não pode tudo.
A condenação do deputado João Paulo Cunha (PT-SP), um dos envolvidos no
crime do mensalão, desatou no PT uma onda de ataques duros e
inconsequentes ao STF.
Como se aquela corte fosse composta por
homens fracos, covardes, que cedem à pressão de uma imprensa
supostamente ávida por cabeças e de uma opinião pública bobinha movida a
manchetes e artigos.
O barulho provocado pelo julgamento
talvez fosse capaz de influenciar o resultado de uma eleição nacional.
Mas a que tivemos há pouco foi local.
O PT saiu dela celebrando alguns prodígios – o único de fato retumbante, a reconquista da prefeitura de São Paulo.
É o terceiro partido em número de prefeitos. Mas é o primeiro em número de pessoas que governa.
O PMDB e o PSDB perderam prefeituras.
O PSB foi o partido que mais cresceu – 40%. Embora tenha obtido
vitórias em Minas, Rio de Janeiro e São Paulo, se mantém um partido
basicamente regional. Nordestino. Deixou de ser satélite do PT – e isso
não foi pouco.
Alguém deve ter-se dado conta de que a rebelião
do PT contra o STF poderia agravar a situação do partido aos olhos do
distinto público e na reta final do julgamento.
Aconselhado
pelo ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, Lula reuniu-se com
José Dirceu e José Genoino e ordenou que baixassem a bola. A ordem foi
repassada ao deputado Ruy Falcão, presidente do PT.
Nada de nota oficial para censurar o STF. Nem de manifestações hostis promovidas pela Central Única dos Trabalhadores.
A hora é de esperar para ver no que vai dar.
O PT imaginou que o STF absolveria algumas de suas estrelas – Dirceu e Genoino com certeza. Foram condenadas.
O PT imaginou que, se condenadas, elas acabariam poupadas de cumprir pena atrás de grades. Tudo sugere que não serão.
Para completar, o ex-publicitário Marcos Valério, um dos operadores do
mensalão, pediu para ser ouvido pelo Procurador Geral da República e, em
depoimento assinado, disse que tem muito a revelar.
Reza o PT
para que Valério não tenha como provar o que a VEJA e o jornal O Estado
de S. Paulo publicaram nas últimas semanas – que Lula era o chefe do
mensalão; que Antonio Palocci, ex-ministro da Fazenda, participou do
esquema da compra de apoios políticos; e que ele, Valério, enviou para o
exterior dinheiro destinado ao PT.
Terá Valério abastecido ou
tido acesso à caixa-mãe de todos os Caixas 2 onde o PT esconde dinheiro
obtido irregularmente? Será trágico para o partido se isso tiver
ocorrido.
Valério quer contar o que diz saber em troca de menos
anos de cadeia. O Procurador Geral da República poderá ou não aceitar
sua proposta.
Mas caso Valério formalize uma denúncia contra
quem quer que seja, e desde que ela seja minimamente fundamentada, o
Procurador não poderá ignorá-la. É sua obrigação providenciar para que
uma denúncia de crime seja apurada.
Então talvez saberemos se
Lula foi de fato apenas um idiota, um panaca, feito de trouxa por seus
acólitos, alheio ao que se passava a poucos metros do seu gabinete no
Palácio do Planalto.
Ou então se Lula mente ao país até hoje